O meu corpo, se bem que leve, é um peso que
arrasto sem forças para tanto, um peso que me dói, além de me pesar e de
me coagir a arrastá-lo. Desejaria não o sentir, como não sinto o ar que
respiro, embora esteja envolvida nele e com ele. Queria
deslocar o corpo sem esforço, tal como desloco fluidos, cheiros,
poeira, quando caminho de qualquer lado para qualquer lado. Queria
disponibilizar o corpo, guardá-lo bem fechado numa gaveta secreta e,
quando precisasse, ia lá buscá-lo, trazia-o comigo e dizia-lhe: agora
quero sentir-te, mostra-me lá como é, dá-me apetites e desejos que eu
possa facilmente satisfazer, dá um prazer à alma que te habita...
Fernanda Botelho
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