13 de abril de 2015

OS NINGUÉNS (por Eduardo Galeano, em memória e gratidão!)
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“As pulgas sonham em comprar um cão como sonham os Ninguéns em fugir da pobreza... E que algum dia, por magia, dos céus chovam cântaros de sorte, que a sorte os bafeje, mas como a sorte não lhes sorriu ontem, não lhes sorri hoje nem nunca na vida lhes sorrirá e jamais uma gota de sorte lhes será enviada dos céus, por mais que os Ninguéns a clamem, por mais que se cortem na mão esquerda, se ergam do chão com o pé direito ou comecem o ano a trocar de vassoura, os Ninguéns serão sempre filhos do incógnito e donos do nada.
Os Ninguéns, os nenhuns, negados por todos, correndo como coelhos, morrendo ao longo da vida, serão eternamente anônimos, chulados, fodidos, re-fodidos e mal pagos, fugindo constantemente da vida que lhes é caucionada...
Aqueles que não são alguém, mesmo que o sejam...
Aqueles que não falam idiomas, mas dialectos...
Aqueles que não professam religiões, mas superstições...
Aqueles que não fazem arte, mas artesanato...
Aqueles que não são seres humanos, mas recursos humanos...
Aqueles que não têm cultura, mas folclore...
Aqueles que não têm rosto, mas braços...
Aqueles que não têm nome, mas são um número...

Aqueles de quem não reza a história universal, mas aparecem nos roda-pés dos jornais são os Ninguéns, que valem menos do que a bala que os mata e se suicidam... a eles, com eles e para eles...
Aos mais pobres, aos mais fodidos, àqueles que ninguém quer ver... aos que não contam... aos discriminados... aos explorados... aos privados dos seus direitos... aos ignorados... aos excluídos... aos que clamam por justiça e sonham com a dignidade... aos que gritam 'BASTA'...
Aos que morrem de fome... aos que padecem dos abusos...
A eles, com eles e para eles”

Eduardo Galeano

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