11 de setembro de 2013

 
A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.


Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou

A vinda tem a regressão errada.

Já não sei de onde vim nem onde estou.

De o não saber, minha alma está parada.


Se ao menos atingir neste lugar

Um alto monte, de onde possa enfim

O que esqueci, olhando-o, relembrar,


Na ausência, ao menos, saberei de mim,

E ao ver-me, tal qual fui ao longe, achar

Em mim um pouco de quando era assim.



 
Fernando Pessoa