10 de maio de 2013



"(...) esta melancolia sombria, acumulada em mim por um pensamento constante, um pensamento muito acima do meu alcance: que tudo na vida não tem importância.
Tudo é sem importância, eis a verdade.
Existirá o mundo?
Ou não haverá nada em nenhuma parte?
E tive a revelação de que não há nada à minha volta.
Parecia-me, no entanto, que até essa altura estive rodeado por seres estranhos a mim, mas compreendi que eram aparências infrutíferas.
Nada existiu, nada existe, nada existirá.
Deixei logo de me irritar com os outros e de me ocupar deles. Palavra! Até chocava com os transeuntes, de tão distraído que estava. Contudo, distraído por quê? Tinha deixado de pensar.
Tudo me era indiferente. Ainda se eu procurasse resolver os grandes problemas! Eu não resolvia nada, os problemas bloqueavam-me em vão; tudo se tornou para mim sem importância, e todos os problemas se dissiparam."


 
Dostoiévski - O Sonho de um Homem Ridículo (trecho)