Vamos, não chores. A infância está perdida, a mocidade está perdida. Mas
a vida não se perdeu. O primeiro amor passou, o segundo amor passou, o
terceiro amor passou. Mas o coração continua. Perdeste o melhor amigo,
não tentaste qualquer viagem, não possuis carro, navio, terra. Mas tens
um cão. Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca
cicatrizam. Mas, e o humor? A injustiça não se resolve. À sombra do
mundo errado murmuraste um protesto tímido. Mas virão outros. Tudo
somado, devias precipitar-te, de vez, nas águas. Estás nu na areia, no
vento… Dorme, meu filho.
— Carlos Drummond de Andrade.