21 de abril de 2013

Podei a roseira no momento certo 
e viajei muitos dias, 
aprendendo de vez 
que se deve esperar biblicamente 
pela hora das coisas. 
Quando abri a janela, vi-a, 
como nunca a vira, 
constelada, 
os botões, 
alguns já com o rosa-pálido 
espiando entre as sépalas, 
jóias vivas em pencas. 
Minha dor nas costas, 
meu desaponto com os limites do tempo, 
o grande esforço para que me entendam 
pulverizam-se
diante do recorrente milagre. 
Maravilhosas faziam-se  
as cíclicas, perecíveis rosas. 
Ninguém me demoverá 
do que de repente soube 
à margem dos edifícios da razão: 
a misericórdia está intacta, 
vagalhões de cobiça, 
punhos fechados,  
altissonantes iras, 
nada impede ouro de corolas 
e acreditai: perfumes. 
Só porque é setembro.
Meditação à beira de um poema- Adélia Prado, in "Oráculos de maio", 2007 p. 33-34.