Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido,
mas dar é bom pra cacete. Dar é aquela coisa que alguém te puxa os
cabelos da nuca, te chama de nomes que eu não escreveria, não te vira
com delicadeza, não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom. Melhor
do que dar, só dar por dar. Dar sem querer casar, sem querer apresentar
pra mãe, sem querer dar o primeiro abraço no ano novo. Dar porque o cara
te esquenta a coluna vertebral, te amolece o gingado, te molha o
instinto. Dar porque a vida de uma publicitária em começo de carreira é
estressante, e dar relaxa. Dar porque se você não der para ele hoje, vai
dar amanhã, ou depois de amanhã. Dar sem esperar ouvir promessas, sem
esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro. Dar é bom, na hora.
Durante um mês. Para as mais desavisadas, talvez anos. Mas dar é dar
demais e ficar vazia. Dar é não ganhar. É não ganhar um eu te amo
baixinho perdido no meio do escuro. É não ganhar uma mão no ombro quando
o caos da cidade parece querer te abduzir. É não ter alguém pra querer
casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de ano novo e
pra falar: “Que cê acha amor?”. Dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre,
dê muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma
chance ao amor, esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau
humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar o suficiente pra nem
perceber as catarradas na rua. Se você for chata, suas amigas perdoam.
Se você for brava, suas amigas perdoam. Até se você for magra, as suas
amigas perdoam. Mas… experimente ser amada.
— Luís Fernando Veríssimo