Que venham as palavras:
nocivas, indecisas, despudoradas, vestidas de dores, de mágoas, de
raivas. Que venham como quiserem, que se ofereçam delicadas ou urgentes,
despidas de tudo, eloquentes, mas que sejam transparentes. Que venham
sem falso moralismo, sem recalques, sem alegrias artificiais, sem
entusiasmos opacos. Venham palavras: inocentes, indecentes,
inexistentes. Componham frases, poemas, cartas, bilhetes, músicas.
Venham livres, eufóricas e aladas, sem apego ao poeta-instrumento, à
paisagem, ao sentimento, a nada. Venham vivas, mesmo que para falar,
acidamente, dos mortos que ainda não foram enterrados.
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