Escrever é
tal procura de íntima veracidade de vida. Vida que me perturba e deixa o
meu próprio coração trêmulo sofrendo a incalculável dor que parece
ser necessária ao meu amadurecimento — amadurecimento? Até agora vivi
sem ele! É. Mas parece que chegou o instante de aceitar em cheio a
misteriosa vida dos que um dia vão morrer. Tenho que começar por
aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada vez que eu caio, pois
quando eu caio a raça humana em mim também cai. Aceitar-me plenamente? é
uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa
espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a minha
palavra tem um coração onde circula sangue.
Um Sopro de Vida - Clarisse Lispector
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