É preciso que a saudade desenhe tuas linhas
perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas
ponha um frêmito em teus cabelos. É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há
muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo. Mas é preciso,
também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar. É preciso a saudade para eu
sentir como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida. Mas quando
surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o
teu retrato. E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
— Mario Quintana em “Presença”.
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