19 de agosto de 2014

 
Como brisa...
O relógio é um senhor feudal: arrebanha
Olhares, passos, toques, limites, gestos
No deslizar de ponteiros d'um ciclo tacanha.
Como é mágico esquecer da hora num aclive de sonho,
Encantar-se com pequenices, como uma mosca na grama,
Marias-sem-vergonha, a mais supérflua sombra
Ou a luz diluída no canto de um poema.

Se o caminho é razão-coração e nada fica
Imperceptível ao voo luminoso da magia
Que brota das sementes dos desejos,
É preciso arranhar o espelho d'aspereza,
Desmanchar o novelo da performática
Que escraviza... S'é mister um friso de leveza,
Visite um livro onde linhas são planícies
E palavras passaredos.

Se um corvo bica as pontas da demora
E o tédio enferruja o silêncio das horas,
Resta ser como a brisa...
Soprar quimeras nas dobras das mazelas,
Refazer a aura nas esquinas da calma.

Para plantar sementes d'estrelas,
É preciso desconstruir rotas, retas,
Círculos, grades, portas... Abrir as comportas,
Desaprisionar asas, degredar a desventura,
Permitir o namoro entre sonho e vida.

 
 
Stella de Sanctis

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