27 de junho de 2014



«...Não há nada como voltar a casa, aos cheiros peculiares que nos acolhem ao chegar, voltar à nossa luz, às coisas que têm as nossas impressões digitais, reticulas da nossa pele, voltar aos espaços onde se bebem memórias, boas ou más, mas as nossas memórias. Voltar aonde conhecemos de cor as nódoas de vinho das toalhas e os miolos de pão, o esfacelado das chávenas que nos recusamos a deitar fora, a moeda que caiu dos bolsos para debaixo da cama, a gaveta que esconde uma fotografia do passado, o risco no tampo da escrivaninha, o estalar da tijoleira no vestíbulo, o ranger da cama, a janela de madeira que custa a fechar no Inverno, a mancha de humidade escondida atrás de um sofá que tem já a forma do nosso corpo, até aquele bibelô pindérico em louça chinesa que alguém nos ofereceu no Natal. Na nossa casa diferenciamos o cheiro dos livros já lidos dos livros por abrir. Por isso estava feliz de ter voltado a casa...»

 
João Morgado IN: Diário dos Imperfeitos

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