28 de abril de 2014

"Carlos, sossegue, o amor 
é isso que você está vendo: 
hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabe 
o que será.

Inútil você resistir 
ou mesmo suicidar-se. 
Não se mate, oh não se mate, 
reserve-se todo para 
as bodas que ninguém sabe 
quando virão, 
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico, 
a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando, 
lá dentro um barulho inefável, 
rezas, 
vitrolas, 
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabe 
de quê, praquê. 

Entretanto você caminha 
melancólico e vertical. 
Você é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatro 
e as luzes todas se apagam. 
O amor no escuro, não, no claro, 
é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém, 
ninguém sabe nem saberá."

[Carlos Drummond de Andrade. In: "Não se mate" - Antologia Poética. Ed. Record - p. 196]
Não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Não se mate



Carlos Drummond de Andrade. In: "Não se mate" - Antologia Poética.

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