"Mora em nós um outro que não se esquece da nossa verdade... Alguns
pensam que psicanálise e poesia são coisas de loucos. Tem até ditado: De
poeta e de louco todo mundo tem um pouco. Os sapos e rãs, ao ouvirem as
canções do príncipe poeta, só poderiam ter dito: É poeta! É louco! E
trataram de curá-lo, educando-o para a realidade. Para eles ser normal é
coaxar como todos coaxam. Mas a alma, em meio à ruidosa monotonia da
vida, continua a ouvir uma voz que vem nos intervalos. Continua
a chorar ao ouvir uma melodia que não havia. Continua a ouvir a fala de
um estranho que mora em nós, e que nos visita nos sonhos. Continua a
ser queimada pelas brasas da saudade de um lar esquecido, do qual
estamos exilados. É bem possível que os sapos e rãs vivam mais
tranquilos. Para eles todas as questões já estão resolvidas. Mas existe
uma felicidade que só mora na beleza. E esta a gente só encontra na
melodia que soa, esquecida e reprimida, no fundo da alma."
- Rubem Alves, em "Palavras para desatar nós"
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