16 de maio de 2013


Se te pergunto o caminho, falas-me das rochas

que mortificam o dorso das montanhas; e do ranger

da água no galope dos rios; e das nuvens que coroam

as paisagens. Contas que a noite geme nas fendas


dos penhascos porque as cidades apodreceram junto

às margens; que o vento é um chicote que desaba

os chapéus; que terra treme; que o nevoeiro cega; e

que as casas onde o medo se extinguia na longa bainha do

vestido da mãe cederam ao peso das mágoas dentro delas.


E, se mesmo assim quero ir, dizes que os meus passos

se perderiam no comprimento das sombras ― que não há

mapas para os sonhos de quem morre de amor; e que

os ramos debruçados dos muros das ruínas rasgariam

a carne ― como um sorris rasga o tecido de um rosto.


Se não me amas, porque me avisas assim da dor?



Maria do Rosário Pedreira, in "Poesia reunida".

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