(...) Arrumei os amores, é a primeira regra da
vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas
ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não
murcha. A amizade só se perde por traição – como a pátria.
Num campo de batalha, num terreno de operações. Não há explicações para
o desaparecimento do desejo, última e única lição do mais
extraordinário amor. Mas quando o amor nasce protegido da erosão do
corpo, apenas perfume, contorno, coreografado em redor dos arco-íris
dessa animada esperança a que chamamos alma – porque se esfuma? Como é
que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu
deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua?
Inês Pedrosa
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